Sun Tzu e A Arte da Auto Ajuda
de Rodrigo Leão no Metro São Paulo, de 22/11/2007.
Toda vez que eu passo naquela livraria do Aeroporto de Congonhas eu tenho certeza de que estão de sacanagem com a minha cara. Fico embasbacado com a seleção à venda. A maioria dos livros é de um estilo que poderia se chamar auto-ajuda para executivos, mas que se você chamar de cocô mole não sou eu que vou discordar.
O mercado de livros de auto-ajuda para executivos é uma guerra. E nessa guerra as duas das maiores vítimas são Sun Tzu, o lendário general chinês autor de “A Arte da Guerra” e o próprio Nosso Senhor, Jesus Cristo.
Só o autor Gary Gagliardi agride a memória de Sun Tzu com “Sun Tzu — A Arte da Guerra + A Arte do Marketing” e “Sun Tzu — A Arte da Guerra + A Arte da Administração e Negócios”. Seguido de perto por Gerald A. Michaelson com “A Arte da Guerra para Gerentes”, que sagazmente deixa espaço para próximos lançamentos como “A Arte da Guerra para Diretores” e o tão aguardado “A Arte da Guerra para Secretárias Bilíngües e Tradutores Juramentados”.
Já Chin-Ning Chu entra com um ataque pelos flancos com “A Arte da Guerra para Mulheres”, título que me lembrou uma piada do Robin Williams, que dizia que se as mulheres controlassem o mundo, não haveria mais guerras. Apenas negociações intensas a cada 28 dias. Nessa mesma toada, Lois P. Frankel vem com “Mulheres Boazinhas não Enriquecem e “Mulheres Ousadas Chegam Mais Longe”, títulos com os quais todo mundo concorda e que por isso ninguém precisa ler.
Agora, na categoria “Usando o Nome do Senhor em Vão”, temos Ken Blanchar e Phil Hodges, com “Lidere como Jesus” e Laurie Beth Jones com “Jesus - O Maior Líder que Já Existiu”. Imagino que o primeiro capítulo de ambos leve em conta a complexa questão da Santíssima Trindade. Se Deus é único, mas revelado em três Pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, me parece perigoso tirar conclusões de liderança empresarial tendo só um dos três como foco. Ou, pior, daqui a pouco vão escrever “A Arte de Ser Múlti- Tarefas com a Santíssima Trindade”.
Há ainda o dr. Thomas Anderson, que
escreveu “Deus Quer que Você Seja
Milionário”, que explica o processo de
experimentar as
bênçãos de Deus através de
investimentos sensatos e do resultante crescimento de riqueza. O que
nos leva à conclusão óbvia de que Deus
gosta muito do multibilionário americano Warren Buffet, pois
ninguém jamais investiu de forma tão sensata e
lucrou tanto. O problema é que Mary Buffet e David Clark
já escreveram “O Tao de Warren Buffett”.
Afinal, o velhinho ficou rico por causa do Tao ou foi Deus?
Só Sun Tzu saberia responder.
RODRIGO LEÃO é músico, jornalista e publicitário. Escreve às quintas-feiras. Visite o blog da coluna: popprop.wordpress.com